Os Putativos

Talvez seja uma grande ironia do destino esse blog começar justamente quando a obrigatoriedade do diploma para jornalistas foi extinta. O que era pra ser uma piadinha sobre "querer ser algo que não é" acabou por se torna uma piada real, mas nesse caso em âmbito nacional.
Por outro lado, acho que tudo isso vem a calhar para ilustrar uma coisa importante: a influência dos blogs nessa tomada de decisão.

Não é curioso que justamente agora, em uma época moderna, onde a informação vem num segundo e todos podem nesse mesmo segundo passar a sua opinião em um comentário. Que justamente nesse momento e nessa realidade a decisão foi votada e aprovada pelo Supremo?
Estamos vivendo tempos rápidos. As pessoas buscam notícias frescas, e, mais do que isso, buscam espaço para poder deixar claras as suas opiniões. O ser humano é um bichinho bem safado que desenvolveu um sistema comunicacional complexo só pra poder aparecer mais, e conseguiu. A verdade é essa e sempre foi: todos procuram ser ouvidos. Ser ouvido é o mesmo que ser respeitado, que ser reconhecido.

Antigamente esse luxo era exclusivo dos grandes políticos e jornalistas, por ocuparem um lugar de destaque. As pessoas não tinham alternativa, podiam gritar ou comentar suas opiniões em uma mesa de bar, mas o alcance de sua voz era curto e muitas vezes reprimido. Com sorte, único provavel espaço encontrado eram alguns centimetros no 'Canto do Leitor'. Era uma pena, sim. Mas aí a internet chegou...

A partir da ploriferação da internet todos encontram uma rede de extensão inimaginável, com pouca ou nenhuma restrição, e, mais do que tudo, as pessoas encontram ouvintes (leitores, no caso). Qualquer um pode fazer um blog em questão de minutos, e mais ainda, pode ser lido e até mesmo virar o tão sonhado formador de opinião. Esse poder seduz, o poder de ter seguidores, de ser admirado e influciar aos outros, ah, como seduz!

Por causa disso, desse poder conquistado, as pessoas começaram a questionar o que é o jornalismo.

Eu arrisco, sem medo de errar (e por experiência própria) que 90% das pessoas que prestam pra jornalismo o fazem exatamente por esse motivo. Seja por causas nobres ou não, no final das contas, o que todos buscam é o prazer de falar e ser notado.

Acontece que exatamente depois de começar a cursar jornalismo eu percebi que o meu papel é muito maior que esse. Em geral, todos costumam a confundir o jornalismo com os jornalistas. Quando se pensa em jornalismo se pensa primeiramente em jornalistas opinativos, aqueles que discursam e criticam ativamente algum assunto. Imagina, ser pago para dar sua opinião? quem não quer isso?
Bem, era o que eu queria e depois vi que era o que eu menos poderia fazer.

Ao jornalista não cabe ficar falando pelos cotovelos as opiniões dele, seu papel é o de pesquisador, de investigador. É aquele que vai a fundo em determinadas questões não para induzir as pessoas a concordarem com ele, mas sim, para mostrar a elas os dois lados da moeda. A função do jornalista não é incutir na cabeça de ninguém o que pensar e sim dar ferramentas para que todos, por conta própria, tirem as suas conclusões. Enfim, o papel de jornalista é tudo, menos falar o que está pensando.

Confesso que isso me deixou bem chateada a princípio. pensei "mas e eu, ou? eu quero falar o que eu penso, eu quero que saibam meu nome e quem eu sou!"(ê humanazinha miserável!). Até que vi a beleza (e dificuldade) daquilo que eu estava me propondo a fazer, e mais que tudo, percebi como o jornalismo é visto pelas pessoas. E que a culpa disso é em grande parte dos próprios jornalistas.

Falar opiniões próprias é facil, compreender a ética e o peso do que é falado e tentar ser imparcial (tentar, porque isso não existe), isso sim é difícil. Não consigo enxergar alguém que não tenha passado pela experiência acadêmica esteja pronto para compreender a dimensão disso (novamente, experiência própria).

Deixo aqui a minha tristeza pela decisão do Supremo, pelas afirmações esdrúxulas de Gilmar Mendes e por ver uma população apática e cega.
Esse não é um blog jornalístico.



"let's cook a newspaper?"


(2) Comments

  1. Paula Nogueira On 23 de junho de 2009 às 23:18

    =~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~



    oi, eu amo essa merda desse curso, essa porcaria dessa profissão e eu quero chorar porque alguém me entende, beijos :~


    Quando me falaram "larguei jornalismo porque cortaram minhas asinhas, não me deixaram escrever o que eu queria" eu logo pensei em um rolo compressor, amassando as suas idéias. Tipo Direito, sabecomoé? Mas entendi que é preciso ser muito mais do que isso pra não se achar o certo o tempo todo. Esse é o problema. Todo mundo quer ter razão, e por isso mesmo perdem o direito de ficar calado.

    A gente tá nessa por um ideal muito maior... coisa que só a gente entende.

     
    Unknown On 24 de junho de 2009 às 20:52

    gostei do texto... indignações a parte - o nome do blog é muito engraçado! oO


    mas continuem fazendo jornal, somos assim mesmo, nao largamos o osso - vamos a luta! ;)


    bjo putativas!

     

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