Os Putativos

Hoje minha missão pauta foi ir assistir à uma apresentação de um grupo intitulado Teatro do Oprimido. Lá fui eu rumo a UCG para a assistir a peça, que não me animou muito depois que vi o release. Geralmente frases como "As atividades visam à democratização dos meios de produção cultural, como forma de expansão intelectual de seus participantes" costumam a produzir comichões de preguiça no meu ser.

Não é por mal, mas me parece o tipo de oração formada com palavras rebuscadas para parecer algo maior. Enfim, o bom e velho, falou, citou e não disse nada.

Pra confirmar minhas angústias, o terceiro parágrafo me começa com um "influências de Paulo Freire", aí pronto, já pensei, "uno meu sono ao ar condicionado.. sim, teremos uma boa tarde".
Antes de parecer muito pedante, vou explicar o que realmente é o Teatro do oprimido e como eu me surpreendi hoje.

O grupo de Teatro do Oprimido foi criado em 1986 por um camarada chamado Augusto Boal. Um simpático senhor de cabelos brancos, daquele que se você visse na rua gostaria que fosse o seu avô. Augusto era diretor de teatro, dramaturgo, e foi um desses caras que via além.

Sabe quando você lê Foucault pela primeira vez e se sente confuso porque no fundo já sabia tudo o que ele estava falando mas mesmo assim todos diziam que ele era genial?

É desse grupo de pessoas, meio únicas, que conseguem teorizar o que no fundo "todo-mundo-acha-que-sabe" que Boal faz parte. Através das suas experiências como diretor e observando a prática teatral por um ângulo educacional, ele formulou o Teatro do Oprimido.

Resumindo de forma grosseira, a idéia seria uma cultura do povo para o povo. Mããns, antes que você tenha um deja vu, a idéia de "cultura" nesse sentido não é puramente de entretenimento. Boal busca, atraves da inclusão do "oprimido" na elaboração e execução teatral instiga-lo a lutar por sua libertação.
O que me chamou atenção nesse caso é que a suposta "libertação" não diz respeito a revoluções mirabólicas, mas como o indivíduo pode agir no seu meio para que esse quadro de "opressão" não volte a acontecer.

A apresentação que vi hoje foi um teatro-fórum. A proposta desse teatro é a encenação de duas ou mais cenas de conflitos baseadas em experiências reais de integrantes do grupo. Após o término do ato, uma questão é aberta ao público: "e agora? o que deveria ser mudado nessa cena para que tal conflito não ocorresse dessa forma?"

O interessante da proposta é que o público só pode alterar as ações daqueles que estão numa posição de opressão. Ou seja, o jogo teatral cria um clima real e propôe que todos pensem em uma resolução real. Ou seja, induz que soluções práticas e possíveis sejam pensadas.

As apresentações de hoje foram encenadas por menores infratores do Centro de Internação para Adolescentes (CIA) e o Centro de Atendimento Sócio Educativo (CASE). No fundo eu estava como uma intrusa, a ultima coisa que eu era naquele auditório era uma oprimida, mas ver aqueles meninos no palco me passou uma sensação esquisita.

Pareciam garotos comuns, desses que passam do seu lado no shopping. Foi difícil cair a ficha de que na verdade eram garotos que precisaram de uma liminar do juiz para poderem se apresentar. E que logo após à peça recolheriam o cenário e voltariam para o ônibus, para suas celas.
Foi meio chocante ver os pais abraçando e se despedindo dos filhos. Ver uma garota que parecia ter una 15 anos se despedindo do namorado que precisava ir embora.

No final das contas, é muito engraçado como nós nos achamos dignos de julgar a realidade. Como nos achamos muito bem politizados e cientes de tudo por acompanhar as notícias. Como somos espertos porque sabemos como o mundo é.

é engraçado quando sempre nos faltam palavras quando a realidade dos outros acontece na nossa frente.



Pra quem quiser saber mais sobre o Teatro do Oprimido ou sobre Boal.

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